“Scarface”
I
Teus olhos precisam de deserto
Tu preferirias tirá-los e finalmente
separar um do outro, deixando o direito
mais confortável pra ensiná-los a justiça ou
deixar o gauche queimar como bruxa ou
Sentindo prazer em enterrá-los vivos
enquanto o resto do corpo cega
Adivinhar que se debatem nos grãos
que arranham sem dó como gatos
mas não
II
Repousas os olhos na mancha
que me corta o umbigo, sente
que se debatem – pombos
esfomeados – tremelicam de leve e tu ficas
feio, não sou alquimista, tu saltas
no meu corpo e me preenche
de cobertas até que começo
a te ensinar o fogo
Só então tu olhas o Sol
recusas mais uma manhã
Meu corpo te mancha de terra.
III
Teus olhos precisam de um
deserto como a mancha
do meu umbigo precisa
dos teus olhos me molhando
Teus olhos me comem e
me alimentam
Te enraízas cada vez mais
Te afundas
IV
Se eu te desse um deserto
talvez a tua torneira de açúcar
fosse a cereja do bolo
Não a loucura que respinga
Não a loucura que incomoda
Tu enfim me desertarias
mas não
V
O amor ignora o coração
porque fica preso nos olhos
VI
Manchaste-me.
Sem comentários:
Enviar um comentário